Educação em Tempo Integral: avanços ou desafios com a nova Resolução CNE/CEB nº 7/2025?

No dia 4 de agosto de 2025, o Conselho Nacional de Educação (CNE), com homologação do MEC, publicou a Resolução CNE/CEB nº 7/2025, que estabelece as Diretrizes Operacionais Nacionais para a Educação em Tempo Integral na Educação Básica.

A proposta é ambiciosa: ampliar a jornada escolar para, no mínimo, 7 horas por dia ou 35 horas por semana, fortalecendo o desenvolvimento integral dos estudantes. Mas, embora o objetivo seja nobre, muitos educadores e especialistas têm levantado dúvidas e alertas importantes.

Neste blog, vamos apresentar os dois lados dessa nova etapa da educação brasileira.

O que muda com a nova Resolução?

Segundo o texto oficial, a educação em tempo integral deve incluir:

·       Jornada mínima de 7h/dia ou 35h/semana;

·       Inclusão de todos os momentos escolares no processo educativo (alimentação, higiene, socialização);

·       Currículo ampliado, com foco em áreas como cultura, direitos humanos, esporte, saúde e tecnologia;

·       Participação ativa de famílias e comunidades;

·       Prazo de 180 dias (até fevereiro de 2026) para que redes estaduais e municipais revisem suas normativas.

A proposta está alinhada ao Plano Nacional de Educação (PNE), ao Programa Escola em Tempo Integral e à meta de oferecer uma escola mais inclusiva, equitativa e com maior permanência dos alunos.

Os avanços: uma escola mais viva e inclusiva

Há pontos muito positivos nessa nova diretriz:

✅ Reconhecimento de que a educação vai além do conteúdo “de sala de aula”. Alimentação, descanso, cultura, arte e esportes também educam.

✅ Aumento da permanência na escola pode reduzir desigualdades sociais e educacionais, sobretudo em regiões mais vulneráveis.

✅ Valorização da participação das famílias e comunidades como parte do processo pedagógico.

✅ Incentivo ao desenvolvimento integral: corpo, mente e relações sociais são considerados no planejamento pedagógico.

✅ A Resolução obriga escolas e redes a pensarem de forma mais integrada, criando políticas articuladas com outras áreas — como saúde, cultura e assistência social.

Mas... e os desafios?

Nem tudo são flores. A proposta, apesar de bem-intencionada, levanta algumas preocupações legítimas:

⚠️ Infraestrutura precária: muitas escolas ainda não têm nem o básico para uma jornada regular, quanto mais para funcionar 7h por dia com espaços adequados para descanso, alimentação e atividades diversificadas.

⚠️ Falta de profissionais qualificados: para operar com uma grade diversificada, será necessário contar com educadores, monitores, oficineiros e especialistas de várias áreas — e essa mão de obra pode não estar disponível (ou ser mal remunerada).

⚠️ Aumento da sobrecarga docente: a expansão da jornada pode significar mais trabalho para os professores, que já enfrentam salários baixos, pressão por resultados e exaustão física e mental.

⚠️ Generalização de um modelo único: ao exigir 35 horas semanais como referência nacional, a Resolução pode acabar pressionando escolas que não têm condições reais de implementar o modelo, ignorando contextos locais diversos.

⚠️ Risco de “encher tempo” com atividades sem propósito: se mal planejada, a jornada estendida pode se tornar cansativa e sem sentido pedagógico para os estudantes.

O que as redes devem considerar?

Para não transformar uma boa intenção em frustração, redes e gestores precisam:

·       Fazer diagnósticos realistas da infraestrutura e equipe disponível;

·       Planejar a expansão da jornada com qualidade, não só com quantidade;

·       Garantir formação continuada para quem vai atuar em tempo integral;

·       Ouvir as comunidades escolares antes de aplicar modelos prontos;

·       Buscar parcerias com universidades, ONGs, coletivos e outras políticas públicas.

Conclusão: entre o ideal e o real

A Resolução CNE/CEB nº 7/2025 sinaliza uma mudança importante para a educação brasileira. Ao reconhecer que o tempo escolar deve ser mais amplo, humano e integrado, ela avança em muitos pontos fundamentais.

Mas o sucesso dessa proposta dependerá da capacidade de implementação. Sem recursos, sem escuta e sem planejamento, o que era para ser uma solução pode se tornar mais um problema.

Como em toda grande transformação, será preciso equilíbrio entre o sonho e o chão da escola.

E você, o que acha da nova jornada escolar em tempo integral? Sua escola está preparada para isso?

📌 Acesse a Resolução completa no site do MEC:
https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2025/agosto/resolucao-institui-diretrizes-para-educacao-em-tempo-integral